segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
JORNAL
I
O que embrulhas
além de mentes?
peixes?
ração para cachorro?
Nas horas mortas
de um crime
de certo - estômago
Com a tipografia de sangue
editorial.
II
enquanto me calo e bebo o café,
o país é pilhado por incontáveis ladrões
eu conto as sílabas do poema na fumaça da xícara
e do silêncio
o noticiário formatado para uma plateia de cera traz inúmeros
[ interesses
rimará?
a tela, meus olhos, a carne
um poema atado
cortado no pulso
morto
como o país.
quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
AUTOEXÍLIO
Um retrato torpe do nosso tempo
ali na parede
corroído pelas traças e pela distância
O sofá rasgado, a parede descascada
Um jardim de ervas daninhas a tomar conta
Persianas enferrujadas denunciam ainda mais
a ausência cinza de tudo
No chão a sombra desfigurada
desenha um pássaro
nosso canto em autoexílio.
ESQUADROS
Na curva dos dias
cabelos encrespados de areia e sombra
Mobilizam-se desordenados
Discorridos - progressiva ruptura
As vozes do caramanchão estendem as frestas
Espelho estilhaçado
Horas despidas
Range a teia secular - nosso grito
Molda-se amputado
Já não temos luto, nem esquadros.
GREVE
Depois da greve
Viraremos árvores
Simétricas árvores
a
b
s
o
l
u
t
a
s
nosso grito será o sol estampado nas folhas
nossas veias amplas raízes entrelaçadas
nos mortos
nossa mais rara espécie de orquídea
brotará do medo, a seiva da liberdade.
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